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sábado, 27 de maio de 2017

O motim das florzinhas do meu jardim... (qualquer coisa as alucina! )


Perturbadíssimas...
As florzinhas do meu jardim:
- Miosótis... Violetas... Rosas... Margaridas... Jasmins...
Balbuciam!... Fuxicam!... Discutem!...
Suspiram...  /Ais  /Profundos!/
E sussurram... /Se’s  /Intermináveis!.../
O que lhes terá surrupiado a paz?
Por que / entre si/ lamuriam-se / tanto.../hein?

Ah! Devem estar /irrequietas.../Penso eu/
Porque / quiçá/ não as aguei /ontem.../ Ora!
Ou/ então/.../ tão-somente/
Porque o calor/ insuportável/ do Sertão
As incomoda /sobremaneira.../ Ara!
(Imagino / eu/ cá com meus botões!)

Mas... / tenha por certo/
Ainda que/ enroscado/ em afazeres/ tantos/
Vou até lá... observá-las /de soslaio/
E curiá-las / bem atento/
Pra tentar/ escutar/ o que tanto/ balbuciam.../ entre si/
Ah se vou!...

Mas que bagunça é essa... meu Deus?!...
Queixam-se/ de tudo:
- De colibris /sedentos...
- De abelhinhas/ irrequietas/ a zunir...
- De assanhaços /saltitantes...
E/ até / dos bem-te-vis /
E dos sabiás /cantadores/ Pô!...

Então, pasmem!...
Ao perceberem-me...
(Porque /frenéticos/ gorjeavam/ os pássaros.../)
As florzinhas disseram-me:
Só desejamos/ apenas/ degustar uns pedacinhos
Daqueles /“bolinhos de chuva”/
Que acabas de fritar.../ lá  na cozinha/
Porque o aroma /deles/ está a nos ensandecer!...

Ora, direis: -  DU...VI...DÊ...Ó...DÓ!
Mas que sandice é essa, meu?...
Flores não falam!
E eu/ vos direi/ no entanto/
Que as florzinhas conversam.../ Sim/
Ah se conversam!...
(Sobretudo/ as do meu jardim!)

Montes Claros (MG), 08-11-2013

RELMendes

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Um jeito barroco de ser e de viver!




 Nas curvas e /contracurvas/
Do apressado /cotidiano /da Vida/ barroca/
Há momentos /de muita Sombra/:
- Ansiedade!... - Angustia!... -Tristeza!...
- Dissecação/ de cadáveres! - Peste Negra!...
Mas há// também/ rápidos /
E /abundantes / momentos/ de luz /claridade!/
/ como se fora Epifanias!/
Bem como/constantes e ininterruptos / momentos/de vida vida /
A contrastarem  com aquela /explicita/ morbidez /constante/:
Uma santa ceia /esplêndida!.../
Um candelabro /aceso/ no teto!...
Um enxame de anjinhos /bochechudos/ a esvoaçar/ pelo salão/
(após transpor /um “olho de boi/ em pedra sabão”!)
Uma mão a coçar /o orobó /repleto/ de oxiúros/ irrequietos;
Um cachorro/ e um porco a vasculhar /o lixo/ à cata de alimentos;
Um fiapo de catarro /a escorrer /do nariz de um garotinho/ imundo/
Que se arrasta/ sem cessar/ pelo chão/ a berrar;
Um idoso(a) / peidorreiro (a)/ tentando /disfarçar/ o mal cheiro/
De sua inoportuna/ flatulência/ impertinente/ ao ambiente;
Umas belas /serviçais/ a se movimentarem/ graciosas/ colhendo vinho/ Nas talhas/
(Ah,não faltam /tampouco/ gestos /exagerados/ a se derramarem/ em cena!)

Esse dia a dia / pictográfico/ do barroco/ ah/se veste
De uma/ hilária e encantadora/ multiplicidade /de detalhes/
(que /a nós/nos permitem entrar/ na obra/ e não só /observá-la/
porque / ela esconde/ quase que/totalmente/ seu ponto de fuga!)
Em que /cada pessoa/ cada objeto/ cada coisinha/
(aparentemente/ insignificante/)
Destaca-se /sobremaneira/ no mesmo espaço/
E /ao mesmo/ tempo!

O tal jeito barroco/ de ser e de viver/
É um não /ao “mais do mesmo” /renascentista/
É um /intenso e denso/ movimento /envolvente/
É uma interação/ total /entre o humano e o divino/
É /enfim/ uma inclusão /fantástica/ entre tudo/ e todos!...

Montes Claros (MG), 12-12-13
RelMendes

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Meu Recanto



Ah! O meu recanto
É uma casinha limpinha
Toda caiadinha de azul celeste
E rodeada por um perfumado
Roseiral em flor e sombreado
Por um pé de Flamboyant a florir
Sem economias!

Ah! O meu recanto
É uma casinha límpida
Que prima pela transparência.../absoluta/
Quiçá pelo meu amor à verdade
Que por vezes / ao ser dita/ dói à beça
Mas sempre alumia meus passos
Por onde quer que eu vá /caminhando/.

Ah! O meu recanto
É um lugarzinho repleto de paz
Sem maledicência /alguma/
Porquanto/ nele/ não há lugar
Pra desavenças /tolas /
Nem pra /más/ notícias
Nem pra intrigas /deploráveis/
Nem tampouco pra /infindáveis/
Lamúrias /descabidas/...

Entretanto.../ah/ nele se tem
De sobra:
Ternura... Delicadeza,
Gentileza e muita Alegria
Que é tudo que se precisa
Pra se polvilhar de felicidade
O nosso dia a dia
Pela Vida inteira...

Então por tudo isto
E muito mais ainda
É que ele//o meu recanto/
Transborda de serenidade
E benevolência... Infindas!

Ah! O meu recanto
É uma porta sempre aberta
Que a todos.../generosamente/
Acolhe /com imensa ternura/
Pra ouvi-los silenciosa
E atenciosamente,
E depois.../como se fora  uma seta/
Apontar-lhes caminhos
E mais caminhos...

Ah! Por fim: - O meu recanto
É um bolo confeitado...
Daqueles que só a vovó
Sabe fazer...ora!

Montes Claros(MG), 17-09-2007

RELMendes

quarta-feira, 24 de maio de 2017

CAMINHO



Com /sofreguidão/ tento abrir mão dos atalhos/ sugeridos/
Vez que não são os meus/ para então/ tomar ou agarrar-me/
Totalmente/ de unhas e dentes/ e muito mais ainda/
Aos meus próprios atalhos que/ possivelmente ou/ quiçá/ não/
Conduzir-me-ão por onde muito anelo /palmilhar meus dias/
Sem a interferência de outrem/ ou de outros/ que não eu/
A fim de que/ depois do percurso/ haja sombrias desilusões/
Ou orvalhadas alegrias/ não seja /senão eu/ o único responsável
Por tudo/ e... Sobretudo!.

Caminho/ penso eu/ é algo de muito pessoal/ ainda que ele/
O meu caminho/ não seja Eu/ mas sim: - Tu/ ele ou ela/
Vós/ eles ou elas/...e a quem mais eu me permita querer
Partilhar minha vida/ quer em plenitude...
Ou/ mesmo/ em pedaços/ quiçá!

Ora! Então/ o que é meu caminho/ senão quem/ ou os quem’s/
Com os quais/ a cada dia/ bem desconfiado/ desenovelo a Vida?!


RELMendes 19/01/2017

terça-feira, 23 de maio de 2017

Letícia... A médica de coração lindo!


(Dra. Letícia de Melo Mota)

-Cá entre nós...
E o mundo inteirinho / também/
Quando nada de nadinha
Se nos apresentava de oportuno
Nem tampouco de esperançoso
/Nem a mim nem a ninguém/
Sabe-se bem lá o porquê, 
/ Inesperadamente... /
Uma excelente notícia - por demais
Alvissareira a todos nós -
Rompeu o profundo marasmo
De uma espera sem fim:

-Gente!... Ôh Gente!
A Dra Alegria chegou...disposta
A tratar do povão desse Sertão
Inteirinho... Inteirinho, sô! 

-Por conta desse auspicioso Avizinhamento/ conosco/
Ouve-se.../ então/  Sertão afora
Um brado mais esperançoso ainda:

-Oba!...  Pois que seja muito bem-vinda!
D’ora avante...então/sem dúvida alguma/
A generosa médica /Letícia do coração lindo/
Tudo fará a seu alcance por aqui
Para que haja... / Sertão afora /
Saúde pra dar e vender...a todos!
Pois num é não?!  

-Ora! Rapidamente a boa nova
Espalhou-se... À boca miúda!
E a alegria deslizou sem avareza
Pelo Sertão inteirinho...
Pra felicidade nossa e alegria
De todos nós sertanejos...
Mas não tão-somente a felicidade de nós /humanos/
Pois / escancaradamente/ a olhos vistos
Até os colibris... Coloridos!
Os assanhaços... Azuis!
E as mimosas florzinhas... Silvestres!
Rejubilaram-se  /conosco/ também
Porque a Dra. Leticia veio trabalhar
Por essas terras distantes /de cá.../
Donde / delicadamente/ eu teço
Meus singelos versinhos, enfim.

-Ah! Para todos nós... /desse Sertão amado/
Ela é uma flor-senhorinha...
Porquanto é tão formosa
Tão sorridente
Tão competente
E tão generosa...
É que nós seus pacientes até ousamos chamá-la
De “Dra. Alegria” do coração lindo,
Vez que...sempre /mas sempre mesmo/
- Com muita discrição e bastante ternura -
Ela demonstra amar...profundamente,
Sua encantadora família
- André/ Cecília e Elisa
  E, quiçá, quem mais vier, também -
E seu sagrado ofício de médica
Por ela tão bem exercido.

-Bom... Diante de tanta generosidade
Competência e capacidade em acolher /seus pacientes/
Não há...de jeito algum / mas não há mesmo/
Quem dentre nós a esqueça...
Nem bem devagarinho...ora! 

Montes Claros –MG, 17-10-2015
RELMendes

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Os ventos sopram-me saudades...


-Ah! Quanta vez na madruga...
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades dos bogarims
Que perfumavam as ruas
Da minha infância...
Tão cheia de detalhes!
-Ah! Quanta vez na madrugada
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades dos cheirinhos
Que minha mãe dava
Em meu cangote...
Quando eu a aporrinhava
Com meus calundus
De criança mimada...
-Ah! Quanta vez na madrugada
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades dos meus passeios
De bicicleta...ao entardecer,
Pra conversar com os passarinhos
Vez que meu pai não nos permitia
Tê-los engaiolados em casa...
Para ele os passarinhos nasceram
Pra voar a céu aberto sem fim...

-Ah! Quanta vez na madrugada
A chamar-me...os ventos
Assoviam-me n’alma:
-Saudades de tantas outras coisas
Que  não sei bem o quê...
Quiçá,já as tenha por esquecidas,
E nem os seus porquês...
Eu bem os sei tampouco
Mas ah pretendo sabê-los
O mais rápido possível...
Porquanto, inundam-me a alma alheia
Ah, Se pretendo!
E...bem antes de eu partir
Lá pras bandas do céu... Viu?

Porque...comigo, ah, só levarei...
Sem choramingas alguma
Aromas suaves do que não esqueci
Lá do meu pretérito de criança:
-Quiçá, saudades de mim mesmo...
Quando me derramava...menino bagunceiro,
Pelos quintais floridos da infância...
-Quiçá, saudades do que em mim eu não fui...
Porque enfim eu desejara...tanto, mas tanto, mesmo:
Ser ah como um bem-te-vi laranjeira a anunciar
Em meu terreiro, alvoreceres eternos...
Como diz Manoel de Barros:
- “E isso explica o resto.”

Montes Claros (MG), 21/05/2016

RELMendes)

domingo, 21 de maio de 2017

Apalhaçaram-me nesses tempos extremos


Ah Sem verso algum
Sem poema nenhum
Sem nada que em mim
Se esperance nesse agora
Mórbido porquanto quase
Barroco ou rococó ou um
outro cocô qualquer
Cético, ou palhaço, triste,
Verdadeiramente
De há muito, o sou
E quiçá você, também,
Por conta desse abominável gesto
De lesa à Pátria que hora, por aqui,
Galopa desenfreado!

-Pois essa bandalheira...descabida,
Correndo por aí à solta...País afora,
Nesses tempos estremos que hora vivemos
Faz-me sentir como se fora eu um Palhaço, triste,
Que acabara de sair de um picadeiro alegre!

-Ah Destarte, sem impulsão alguma
Desaprendi a voar além
Desregalei-me em dar
Alegria a outrem
- Não importa quem -
Vez que renego fiar-me
Em humanos aboletados
Uns nas tetas dos outros
E est’outros nas daquel’outros
Mas todos juntos se refastelam gulosos
Nas já secas mamas da Pátria Mãe Gentil
Sem nunca cessar suas ganâncias... Jamais!

-Pois essa bandalheira...descabida,
Correndo por aí à solta...País afora,
Nesses tempos extremos que hora vivemos
Faz-me sentir como se fora eu um Palhaço, triste,
Que acabara de sair de um picadeiro alegre!

-E mesmo em face desse tédio
De quem não espera a morte
- Angustia de todo morrente -
Nenhum deles tampouco, sequer,
Vislumbra alhures, nada, além
Senão a crença de que se farão
Imortais ou imortalizados
Em nomes de ruas vielas
Ou em outros breguerços quaisquer
- públicos ou privados –
Onde jazerão seus desbotados nomes
Com o passar do tempo sujeito, deveras,
A incontáveis intempéries por demais cruéis!

-Ah Sem verso algum
Sem poema nenhum
Sem nada que em mim
Se esperance nesse agora
Mórbido porquanto quase
Barroco ou rococó ou um
Outro cocô qualquer
Cético, ou palhaço, triste,
Verdadeiramente
De há muito, o sou
E quiçá você, também,
Por conta desse abominável gesto
De lesa à Pátria que hora, por aqui,
Galopa desenfreado!

-Pois essa bandalheira...descabida,
Correndo aí à solta...País afora,
Nesses tempos extremos que hora vivemos
Faz-me sentir como se fora eu um Palhaço, triste,
Que acabara de sair de um picadeiro alegre!


RELMendes 25/04/2017

O que são “Idosos”?


-Vejamos:

-Ora! “Idosos” são pessoas:
- Cheias de passados...
Interessantíssimos!
Porque feitos de muitos encontros
E tecidos de incontáveis desencontros...
- Repletas de presentes...
Surpreendentíssimos!
Porque doces como: – Rapadura,
Ou amargos como: - Jurubeba braba!

-Ora! “Idosos” são pessoas:
- Transbordantes de esperança e sonhos
(Visionárias até!)
Para poderem prosseguir
A travessia do restante da Vida...
Corajosa e jubilosamente!
Ah sem desalinho... Algum, viu?!

-Ora! “Idosos” são pessoas:
- Orvalhadas de ternura
A borbulhar à flor da pele...
Prestes a se derramar pela estrada
Da Vida ainda a ser vivida...

-Ora! “Idosos” são pessoas:
-Ornadas de aconchegos...
Gostosíssimos!
Pra acolher sempre bem a quem vier
Partilhar com elas...segredeiras,
Os seus muitos tormentos
Do atribulado dia a dia...

-Ora! “Idosos” são pessoas:
-  Habilidosísimas!
Porquanto verdadeiros Malabares
No trato das ingratidões...deploráveis,
A que os submetem...sem pundonores algum.
Aqueles que deles, Idosos, mais recebem beneces...
Essa verdade tão corriqueira e profundamente Triste 
Permeia-lhes absurdamente o cotidiano
Apesar de serem eles, os “Idosos”,
O porto seguro de tanta gente
Que deles ainda depende... Totalmente!
Mas lamentavelmente não os respeitam
Como deviam respeitá-los Sempre!
Não há...portanto,de maneira alguma,
Por que não tangenciar...então
Nessa verdade tão deplorável a nossos olhos
Pra que dela todos saibam... Imediatamente!


-Enfim, Idosos são pessoas:
- Preciosiosíssimas!
Que aspiram...apenas e tão-somente,
O que lhes é devido: - Respeito!
Porque já labutaram...demais da conta,
Para que muitos pudessem virar:
 - Gente, às suas custas!

RELMendes 04/11/2016


sábado, 20 de maio de 2017

O velho o sonho e a Serra

(lembranças são janelas abertas ao passado!...)


Quando...vez por outra, A brincar
O sol se esconde
Nas embaçadas tardes de outono...
O velho busca se aliviar do calor
Na fresca e sossegada varanda de sua vivenda.
Então se escancha em sua desgastada
Espreguiçadeira e... Por horas a fio:
- Se balança e cochila
- Cochila e se balança...sem parar,
Perdido em gratas lembranças que tempo
Não fez a mínima questão de as apagar.

Com olhar perdido...no tempo,
A degustar lembranças alvoroçadas
Em sua excelente memória...
Ressabiado... Por nada deste mundo,
O velho nunca as revela a ninguém.
Só as sussurra consigo mesmo
Muito abismado de surpresa:

- Ah! Lembranças... Lembranças...
Cada uma mais saborosa que a outra.
- Mas enfim, será pra onde elas me levam
Vez que sempre me arrastam...ao pretérito,
Após cochilos e mais cochilos?
- Ah! Nas asas delas alço voos de juventude
E lá de cima... Vislumbro:
- Serras de sonhos... Montes de utopias...
E belas Campinas de juvenis delírios.

Então, num sussurro quase angelical...
O velho a si mesmo responde:

-Ora, meu velho!
Elas seguem...lá no passado,
As tuas jovens pegadas...
Que certamente...sem hesitarem,
Levar-te-ão determinadas
Ao topo da exuberante
“Serra da Piedade”...
- Onde repousaste...um dia,
Tranquilamente... A cabeça,
No acolhedor colo materno
Da “Padroeira de Minas”...
-Onde contemplaste... Ao amanhecer,
Logo após a Oração das Matinas...
O avançar ligeiro da sombra da Serra,
Que altiva se derramava
Sobre a Belo Horizonte...
A linda capital das Minas!

Então o velho saudoso balbucia ainda:

- Oh! Quão formosa és tú, Ó amada Serra!
Serra...onde vivi a doce saga
De repensar...mais uma vez ainda,
O meu fantasioso sonho juvenil
Em fazer-me um recatado mongezinho
Que nem sequer seria percebido...
Aos olhos malvados desse mundo banal.
Entretanto... Chutei o balde
Chutei a bola...na trave,
E tomei outro rumo...ora!

De repente...
Uma voz estridente ecoa
Lá da cozinha...
E trinca o encantamento
Do sublime devaneio:

- Véio! Ô veio!
- Vem logo tomá o café!

Então...aborrecidíssimo,
O ancião sonhador esbraveja:

Ara! Não quero ser perturbado agora!
Espera só mais um pouquinho!...
Só levantar-me-ei dessa espreguiçadeira
Depois de degustar...uma a uma,
Todas as lembranças
De minha saudosa juventude
Que o tempo levou pra sempre
E não voltará... Jamais,
Nem que a vaca tussa!

Montes Claros, 26-04-2012
RELMendes

Eis aqui minha primeira Crônicazinha! (Séria e interessante!)


Um dia ganhei de um poeta uma anotação hilária!
(E eu, até então, não sabia que o cara era o poeta!)

Por incrível que lhes possa parecer, lá pelos idos de 63 até meados de 68, fui quase vizinho de Guilherme de Almeida – sem ainda sabê-lo ser o poeta. Isto, quando residi à rua Caiubi, em Perdizes – bairro de classe média alta em São Paulo - onde à época, situavam-se pontos estratégicos de encontros da intelectualidade católica da ala progressista: - o “Convento dos Dominicanos”e a PUC (SP).

- Certa feita, então, ao saber que Guilherme de Almeida – o 3º príncipe dos
Poetas brasileiros à época – seria homenageado na, e pela PUC de Sampa -
ali bem pertinho do meu apartamento, pois a umas duas ou três quadras de distância - resolvi ir conhecê-lo e, quem sabe, aprender algo útil para o vestibular. Mas olha só que audácia a minha!

Logo ao adentrar no amplo auditório do famoso TUCA, qual não fora a surpresa: - o poeta a ser homenageado era o meu quase vizinho, que do solar do seu sobrado, todas às madrugadas, ao eu retornar de minhas algazarras noturnas – galinhagens, mesmo, pra dizer a verdade – sempre cumprimentava-me melancolicamente vez que, como de costume, estava sempre chumbado por um bom gole de whisky estrangeiro. Fato que da rua se percebia perfeitamente!
- “Bom alvorecer, porongo”!
Também da mesma forma, chumbado, por “cuba libres”e “daiquiris”, respondia-lhe:
- “Bom dia, senhor, tudo chuchu beleza?”

Mas retomemos o fio da meada – a homenagem ao poeta – esta, coube
à uma famosa filóloga da universidade que se pôs a debulhar, por mais de quatro horas, uma sucessão interminável de palavras desconhecidas e conceitos filológicos esdrúxulos, para mim, que, ao mesmo tempo, encantavam-me – “Quanto conhecimento!” – e deprimiam-me profundamente... “Meu DEUS, não sei nada!”
Mas de esguelha, eu não perdia o poeta de vista, que, vez por outra, anotava e anotava alguma coisa em um pedacinho de papel.

Ao terminar a tal homenagem e findos os cumprimentos à fabulosa filóloga e ao poeta príncipe, aproximei-me dele, sorrateiramente, e perguntei-lhe sussurrando:
- “Olá poeta, o senhor entendeu tudo o que ela disse?”
Ele olhou-me sorridente e, com um ar de compadecido - de mim e dele mesmo - deu-me o tal pedacinho de papel em que anotara inúmeras palavras ditas pela ilustre palestrante. Sendo que de um lado, as precedia a palavra HIPÓTESE, e, no verso do precioso papelzinho, o poeta havia escrito sua ESPLÊNDIDA CONCLUSÃO:

-  “Banguelas não mastigam chicletes!” -

Então, soltei uma gargalhada absurdamente escandalosa. Porque descobrira que não somente eu, mas, também o príncipe dos poetas brasileiros, à época, não as tinha compreendido. Mas que felicidade, meu Deus!
Porque, então, teria eu de compreendê-las, enfim,?!...

Montes Claros(MG), 17-02-2014
REL Mendes