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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Livro Digital: DE REPENTE... O MORTO ESTÁ VIVO! E com muitas histórias pra contar!





Oferecimentos


A todos que gostam de ler
Meus singelos bregueços literários.


  Agradecimentos

A Deus que me concedeu a oportunidade de poder escrever “estas mal traçadas linhas”
( Renato Russo)


Sumário

Capitulo 1
Há algo em comum, entre o pequi e o sertanejo!

Capitulo 2
Sertanejo que é sertanejo, é um irritante brincalhão!

Capitulo 3
Portanto, cantemos louvores à mulheres sertanejas

Capitulo 4
Emborcando-me sobre hilárias lembranças da casa paterna!

Capitulo 5
Quebrando paradigmas: - Pasmem... Filhos e parentes, ( com raras e belíssimas exceções ), são infelizmente, os maiores infratores das normas legais do “Estatuto do Idoso” e da “Lei de Deus”!   


Capitulo 6
A “Serra da Piedade” e o noviço estrambelhado
(O exato momento em que eu recebia o hábito de noviço dominicano em BH.)

Capitulo 7
Frei Jordão, o alegre confessor do Noviço esparolado 



PRÓLOGO

 Se o morto está vivo, certamente, tem muitas histórias cabeludas pra contar. Então, vai abrir a boca, doa a quem doer!
Resposta a uma mocreia intrometida:



Lançaram-me às sombras do esquecimento,
E, inesperadamente, resurgi como “a fênix” ao lança meu primeiro livro ( Polêmico, revelador e ireverente).
É consuetudinário, por estas bandas de cá, dar-se sumiço às pessoas que, de uma forma ou de outra, se propõem a contrariar interesses escusos de alguns guetos familiares dessas paisagens do agreste.
Isto talvez ainda ocorra, porque esses maquiavélicos tecelões da maldade humana não querem se aperceber que a bondade, a ternura e a verdade, sempre suplantarão o mal. É só questão de tempo.

Recado à “medusa oxigenada do agreste”:
Se segundo, Guimarães Rosa, “ O sertão é do tamanho do mundo”, então, tem lugar pra todos nós... 
- portanto, daqui não saio, daqui ninguém me tira, porque o sertão é muito sedutor!




Sertão Sedutor




Assunta só!

Não sei por que...
Melancólico,
Ponho-me a escarafunchar
Vínculos com o sertão...
Não sei por que
Persisto em viver aqui,
 Nesse lindo sertão.

Assunta só!

Tá me saltando da boca
A vontade louca de responder:
Há motivos sedutores de sobra...
Que me fazem
Aqui permanecer!...

Assunta só!

Aqui me afinquei,
( quer queiram ou não!)
E afincado aqui
 Vou ficar...
Até que aprouver a Deus
Para o Céu me chamar!...

Assunta só!

Enquanto houver nesse sertão:
Ternos nas folias de reis...
Festas de São Benedito...
São João e São Pedro,
Catopês... Marujadas e Caboclinhos,
Carne de sol, pão de queijo...
Feijão tropeiro e pequi...
Som de viola enluarada,
Cantigas de “Seresta”...
E o luar... a alumiar e a clarear estradas
Por onde eu deva passar...
É claro que vou ficar aqui!

Assunta só!

Vou ficar sim...
Mas, só enquanto existir por aqui:
“Veredas” refrescantes muitas...
 E frutos diversos do cerrado
(Umbu, coquinho, mangaba,
Buriti, panã e pequi...)
Pra gente saborear!...

Assunta só!

Pode ter certeza,   
Mantido o ecossistema,
Persisto em ficar aqui...
Cravado nesse lindo rincão!...

Assunta só!...
Vou ficar aqui sim...
Porque nesse belo “Sertão,”
É onde se planta vida...
É onde se enterra o corpo,
E é onde se espera contente...
A dita ressurreição!

Montes Claros (MG), 22-11-2011                          RELMendes




CAPITULO 1



Há algo em comum...
entre o pequi e o sertanejo!


Há tempos venho refletindo sobre essa assertiva:
- o que será que eles têm em comum?
Ah! eureca: - os espinhos!
O pequi os esconde sob sua poupa dourada e saborosa!
O sertanejo os esconde sob os sorrisos fartos e a aparente ingenuidade!
Tanto o pequi, quanto o sertanejo, escondem os espinhos com imensa maestria! 
Vejamos, agora, o recado ao leitor que dá sequencia a esta explanação, o passo a passo do raciocínio do qual me utilizei para chegar a uma conclusão tão espinhosa:



   Matreírice de Caipira, Uai!

 
Ouvir e escutar...
As prosas debochadas
Do caipira deste sertão,
É bom demais da conta,
Promove total inclusão!...

Caipira ou roceiro,
Como o queiram chamar,
O catrumano não é besta,
Ao contrario, é muito sabichão!...

Catrumano ressabiado,
Aparente sofredor,
É ave de rapina...
A espreitar a presa desavisada
Que dele se compadece,
Que dele se aproxima!

Cuidado com o caipira,
Porque ele é muito matreiro!
Se a gente der bobeira,
O pobre e triste capiau
Passa-nos à perna sorrindo...
Sem hesitar por um só momento,
Sem sentir nenhum dó...
Sem sentir nenhuma pena
Do caridoso sujeito.

Montes Claros (MG), 20-11-2011
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Recado ao leitor:

ATENÇÃO:
Se quiseres saborear o delicio pequi sem correr o risco de teres a língua perfurada por seus terríveis e dolorosos espinhos, roa-o  superficialmente.  Não o mordas jamais!
Senão, vais ver o que é bom pra tosse.
- Não d`outra forma, se te dispuseres a conviver com o ressabiado sertanejo, trate-o com delicadeza e muita gentileza. Senão verás o eclodir de sua terrível ira!
E tenhas o dito! 













CAPITULO  2

Sertanejo que é sertanejo, é um irritante brincalhão! 
Veja só que pilérias irônicas:
                 
1 - San Remigio do Catajiló,
         (Uma cidadezinha porreta!) 



Segundo Bertolo Brecha
A sua querida San Remigio do Catajiló
É uma cidadezinha qualquer
Como todas as demais do mundo.
  ( Sempre “o mais do mesmo”!)
Tem mais de 400.000 habitantes
E, geograficamente, está situada
No Rincón de San Cucufato Limpo,
Uma bela região localizada
Entre a “Toca do Curupira e a  Cratera do Bacurau”!
Aqui, diz Bertolo Brecha:
A gente usa uai pode, uai pede e uai f­o--!
Viu como, tecnologicamente...
A gente aqui é atualizado?!
Então visite a gente sempre que puder!!!

E prossegue sua curiosa explanação:
Aqui a gente se veste do mesmo jeito;
  ( Chapéu e precata de couro cru!)
A gente só fala das mesmas coisas;
  (Regurgita-se maledicências...
  E empanturra-se de inveja,
  Uns dos outros!!!
Ora, mas a gente se exalta a nós mesmos,
Porque a gente é especialista em jactância,
E embora a gente não se tolere na realidade,
Nesse nosso gueto, a gente depende muito,
Uns dos outros...claro!
  (Desculpe-nos, é coisa do interior!);
Aqui só comemos as porcarias daqui mesmo
  (oiti, seriguela,macaxeira, jabá,tapioca...)
Mas arrotamos caviar...
E peidamos feijão tropeiro!
  (Nisto está a diferença da gente...ora pois, pois!)
E como a gente é muito chique...
Com perdão da palavra:
“On va faire les excrement au bord de la rivière”!
(A gente caga na beira do rio mesmo!)

Intão inté,despediu-se o nosso entrevistado!
Bom...depois do que vi e ouvi,
Logo...logo voltarei a entrevistá-lo
Porque quero saber o que acha do seu bairro!
Kkkkkkkkkkkkkkkk

(Qualquer semelhança, é mera coincidência!)

Montes Claros (MG), 13-02-2014
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Fazendo composição


     (Como bem antigamente... ora!)
 







MEU BAIRRO


              (e seus encantos!)





O meu bairro situa-se na cidade
De São Remígio do Catajiró,
(Rincón De San Cucufato Limpo)
E se chama:
ESPLANOSA!!!
  (Mas não é a Esplanada dos MINISTÉRIOS,
   graças a DEUS!)
Gosto muito do meu bairro por que:
Todas as mulheres se parecem com a BRANCA DE NEVE,
  ( pintam sempre os cabelos com tablete Sto Antonio!)
Chique, né não?! kkkkkkkkk
Tem muitas lojas bregas chique
  (É uma baranguice de dá dó!)
Tem boteco prá dá com pau
(E cachaceiro... já viu, né? )
Portanto...
Como não falar do desagradável somzão?
( Das balalaicas e dos agogôs....gente!)

Ah!...Tem também venda...vendinha...vendão
  (Bodega mesmo, que nem bem antigamente!)
E eu gooooosto, viu?
Tem um posto policial supimpa,
  (Só na base do prende e solta, assim manda a lei,né?!)
Tem um “posto de saúde” todo pintadinho de azul,
Lindinho mesmo!
  (Só prá enganar os tolos, pois lá, não tem nem” óleo de rícino”!)
Tem uma pracinha sem coreto,
Que pena!
  (Mas é lá que as crianças e adolescentes brincam,
  E os jovens namoram!)
Enfim, tem tudo que se possa pensar e desejar:
Padarias... restaurantes... três ou quatro pharmácias
E... muitas vielas asfaltadas, inclusive a minha!
  (Buracos... tá sobrando, e a catinga de lixo abunda!)
Bom, até a próxima!!!
( Qualquer semelhança é mera coincidência!)
BERTOLINHO BRECHA

Montes Claros (MG), 17-02-2014
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Capitulo 3

O sertão é tão matriarcal, mas... tão matriarcal, que penso ser ele um andrógeno  - meigo - disfarçado de super homem!

Portanto, cantemos louvores à mulheres sertanejas:

1- Dalira... uma sertaneja guerreira!
                     (Poecrônica)


 

Para se bordar um poema
Que descreve em versos
A imagem densa e terna de Dalira,
( uma valente sertaneja!)
É preciso ser curioso,
Estar atento,
E recolher...
Nas conversas dos filhos,
Parentes e amigos,
Retalhos de sua vida
Que sejam referências
Para se tentar esboçar
Um esfumaçado perfil literário
De tão guerreira mulher...

Secundária dentre as quatro filhas fêmeas de seu Nego,
Que era pai de mais sete filhos machos,
Dalira era uma cunhã de latente formosura,
Como tantas outras flores do agreste pacuiense.
Dalira era só um cadim de gente,
( no tamanho!),
Mas um mulherão de coragem
Na lida cotidiana
E na lealdade à família.

Ainda muito jovem
( pela belezura conhecida)
Seduziu o ciumento, Santos dos Santos,
Um faceiro rapaz sertanejo de São João do Pacuí,
Com quem conviveu até o final dos dias
Que a vida a ela concedeu,
Pois era mulher de um só homem,
Pra felicidade do sortudo marido!...

E para alegria do dito companheiro,
Seis filhos, Dalira lhe deu:
Zé, Beire, Kela, Lilo, Deo e Daniel,
Sem contar um tantão de netos
E o Marlon Gabriel,
 Bisneto que não conheceu.

Como Cora Coralina
Que quebrou pedras e plantou flores,
Se há gratidão em algum coração,                                
Também há quem ainda se lembra
De que Dalira quebrou coco de macaúba,
Plantou flores em torno da casa
E no quintal hortaliças...                                                                          

Versos...
Ela não os escreveu no caderno,
Mas os anotou e os bordou
Na memória e nas lembranças
Daqueles que a conheceram.

Criou os filhos dela,
E os dos outros também!
Partilhou sua casa,
( acolhendo nela. parentes e amigos),
Costurou!... Costurou a vida inteira!
( Pra poder alimentar a prole dela...ora!)                                                                         
Eis ai a saga de uma mulher
( valente e guerreira!)
Que conheceu a tristeza,
A felicidade e a alegria
E depois de muito lutar,
Adormeceu profundamente,
Deixando-nos muitos legados
De generosidade e sabedoria,
E uma saudade sem fim!...

Montes Claros(MG), 24-04-2012
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Tributo à mulher sertaneja

 



Mulher sertaneja...
Abrasa-me de paixão
teu jeito faceiro de ser
teu cheiro gostoso
de azeite de mutamba
teu vestido de chita estampado
de açucenas multicoloridas
tua gargalhada escandalosa
que me enrubesce de timidez
e constrangimento
tua habilidade em cozer
enternecedoras palavras de amor
tua maravilhosa alquimia de cozinheira
- sem ao menos se dar conta
  de quantas delícias faz:
- feijão tropeiro, arroz com pequi,
  pão de queijo...etc e tal! -
Ah! E, sobretudo, teu remelexo gostoso
na hora do vamos ver.
Eta trem bão sô!

Mulher sertaneija...
Abrasa-me de ternura
tua maternidade fecunda
que povoa o sertão de homens fortes
- criados com engrossados de fubá
   e  folhas de “ora pro nobis” -
e de tantas donzelas belas,
brejeiras, matreiras
e ,culturalmente, casadouras!

Mulher sertaneja...
Abrasa-me de reverência
tua figura matuta de mulher parideira
detentora implacável do poder
- no populoso gueto familiar -
vez que não te alijas jamais
da árdua labuta cotidiana
pra alimentar teus rebentos...
 - de comida e bem querer -
e assim o será até que te convoque
o inevitável pra imperscrutável
banda de lá do porvir eterno.

Eta mulher corajosa, brejeira,
faceira, trabalhadeira!
Eta mulher-mãe-sertaneja
desses confins brasileiros afora!

Mulher sertaneja, és o tesouro
mais precioso do sertão!

Montes Claros (MG), 15/10/2014
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Capitulo 4

Emborcando-me sobre hilárias lembranças da casa paterna!

Era uma casa muito engraçada. Faltava de tudo, mas sobrava algazarra e muita peraltice de seus inúmeros habitantes: filhos, netos, agregados e vários amigos, que nela se instalavam sem data para partir.
Uma esculhambação generalizada se instalara sob o telhado que cobria o velho casebre de meu querido pai para torna-lhe os dias mais suportáveis, já que um AVC o debilitará, sem pena e sem dó!  

Mas nessa casa muita engraçada, ocorria também, muita patifaria, porque nela havia muito cacique pra pouco índio.
A época em que o AVC o acometera década de 80, eu morava em SAMPA, mas vez por outra, o seja, duas vezes por mês eu vinha visitar o meu querido velho, aquele cara meigo e violento que amou todas mulheres e morreu, entre gardênias e outras “cositas más”, na rua camélia 16, bairro Santo Expedito, hoje bairro sagrada família.

Nessas minhas muitas idas e vinda para visita-lo, sempre flagrava cenas muito hilárias: - certa feita, ao chegar inesperadamente, encontrei a tribo toda, inclusive meu velho, reunida na sala de visita, a gargalhar despudoradamente. Então, perguntei-lhes:
- Por que tanta algazarra gente?
Depois, de muitos tapas e beijos de cumprimentos inúmeros, meu irmão mais novo me contou o motivo:
- É que, ao eu passar diante do ventilador que refrescava nosso pai, soltei um pum bem fedido, e a catinga foi direto ao seu nariz, e ele pensou que tivesse sido meu amigo que estava sentado à sua esquerda, e voltando-se para o menino, disse-lhe em alto e bom som:
- Tu tá podre!
Então, soltei uma gargalhada espalhafatosa e disse a meu irmão:
- Etá Guilherme, quando é que você irá deixar de fazer estas patifarias?  

D`outra feita, meu ônibus não sei porquê, se antecipou ao horário previsto para sua chegada à Montes Claros. Destarte, tal fenômeno me  possibilitou flagrar uma belíssima cena em que a alegria de viver era protagonizada pelo meu velho pai.
Ainda sonolento, vez que não durmo quando estou viajando, não percebi, de imediato, que um taxi, trazendo meu velho para seu casebre, adiantara-se, ao meu, em entrar no amplo pátio da frente de nossa casa muito engraçada. Surpreendi-me, sobremaneira, ao perceber que o velho querido decera  do taxi sozinho e aos berros:
- Sou índio!
-Ha ha há...
- Sou índio!
Aproximei-me, dele, sorrateiramente, e perguntei-lhe:
- Posso saber o porquê de tamanha euforia?
Ele olhou-me sorridente, abraçou-me...
E disse-me apenas: - Sou índio!
Eu perdia-me em curiosidades. Mas tive que esperar que “Mãe menininha do nosso casebre” acordasse lá por volta das 19, 00 hs, para que ela me relatasse o motivo de tamanha euforia do nosso amado velho.
Confesso que o bendito mantra paterno – “eu sou índio!” -  martelou-me  a mente durante o transcorrer do dia inteirinho, e transformou a espera da noite num verdadeiro tormento, vez que cabia a mim conter a voraz curiosidade que em mim pululava sedenta.   
Enfim, a noite chegara trazendo consigo a elucidação do bendito mantra do meu velho querido:
-Eu sou índio!
Tal mantra significaria um grito de vitoria:
Tive, num motel da Ponte Branca, uma excelente performance jovial.
Ah! Meu querido velho era muito matreiro mesmo!
Bom... o negocio é caciquear, porque filho de índio é curumim!  
Durmam com está!

Montes Claros, (MG), 14-01-2015
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Um trovador de muitos afetos!...
                   (Meu pai)




Abeirando-me, ressabiado,
Da delicada vereda da saudade,
Ledo, pesquei um momento de ternura
Eternizado por uma antiga fotografia
Que, por si só, denota a beleza
Que transborda de qualquer poesia.

Como se hoje, ainda fosse,
Recordo-me daquele radiante dia
Que nem a “Guerra”,
Nem tampouco o cansaço
De seu estafante ofício de médico,
Impediram-no de esbanjar, comigo,
Tamanho e tão terno afeto.

Talvez dentre tantos outros filhos...
Não fosse eu o seu preferido,
Mas... tenham por certo
Que,  sendo eu o primogênito
Das entranhas dele nascido,
Fui eu quem primeiro lhe concedeu
A inenarrável alegria de ser pai...
Naquele jubiloso dia do meu advento.

Ah, meu amado pai e saudoso amigo,
O humano e o divino conspiraram, em segredo,
Para que me fosse outorgada a honra
De ser, dentre tantos, o teu primeiro filho!
Esse orgulho, de mim, ninguém tira!
Essa vaidade, de mim, ninguém arrancar!

Para mim valeu muito a pena,
Valeu a pena demais da conta,
Eis por que ouso alardear
(Com tanto encantamento!)
Que, de ti, não vou me esquecer nunca,
Nem “bem de vagarinho”!...

Montes Claros (MG) 12-08-2012
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Capitulo 05

Quebrando paradigmas
        (crônica)



Família não é um mar de rosas como se decanta por ai afora! Isto desde que o mundo é mundo, ou melhor, desde o tempo do bumba!

- Pasmem... tanto outrora quanto na atualidade, filhos e parentes consanguíneos de quaisquer espécies, ou quais outros tipos de agregados  ( com raras e belíssimas exceções ), são, infelizmente, os maiores infratores das normas legais do “Estatuto do Idoso” e da “Lei de Deus”!

Para se fazer tal afirmação, é preciso, no mínimo, ter testemunhado ou vivenciado tão lamentáveis  fatos.
Ora, isto não é tão raro quanto pensamos:

Os asilos – esgotos da sociedade – estão abarrotados de idosos abandonados por seus familiares; as salas de espera do INSS estão repletas de pranto, nelas idosos vertem copiosas lágrimas de decepção com seus filhos por terem lhes surrupiado os benefícios de suas aposentadorias ou pensões; os Cartórios de Imóveis, apesar da probidade moral de seus gestores, sempre de olhos abertos para evitar falcatruas jurídicas utilizadas por familiares de idosos ingênuos, são, indiscutivelmente, terrenos férteis para que tais artimanhas ocorram despercebidas.  Esses, e outros tantos  locais, são onde ocorrem essas lamentáveis situações que são fontes imprescindíveis para se poder colher subsídios preciosos que comporão, indubitavelmente, um dossiê de irrefutáveis provas que fortificarão muito as nossas delações.

Pois é... só sei que eu não sou o primeiro nem serei o ultimo delator de fatos tão lamentáveis. Há quem afirme, baseado nas “Sagrada Escrituras” das religiões monoteístas, que o próprio Deus foi quem primeiro delatou esses fatos tão deploráveis.
Vejamos em algumas citações bíblicas o porquê dessa afirmação:  
Conta-se que ao entardecer Deus passeava pelo jardim do Édem e sentiu falta de Abel, e pois-se a questionar Caim:

- Caim, cadê teu irmão Abel?”
- Caim, onde está teu irmão Abel?
Ora, Caim matará Abel por inveja.
Segundo as mesmas escrituras, Jacó (Israel) roubará a primogenitura de Isaú, instigado pela mãe deles;
José, filho de Jacó, fora vendido pelos irmãos, por inveja, aos mercadores de escravos;
O Rei Davi traiu e assassinou seu melhor amigo Jônatas, para surrupiar-lhe a esposa; etc etc...
E para concluir essa retrospectiva histórica judaica-cristã, utilizar-me-ei de um alerta do Senhor Jesus que muito me faz refletir sobre tão delicado assunto: - Os piores inimigos estão dentro de nossa casa.”
( Mt 10 )
                    
Podem até dizer-me: - Mas que coisa mais antiga!
E eu vos direi no entanto que: - Nada está completamente morto nem completamente vivo,” como diria Victor Hugo, mas pulula em algum lugar da memória e vez por outra podemos  pegá-las para sabermos por  onde desliza o nosso velhaco raciocínio, tão parvo, tão esdrúxulo. Contudo, tão contestador e tão lúcido.

Então, diante de tantos alertas válidos, pra ontem e pra hoje, prefiro  andar pela vida sozinho, como diz Caio Felipe:
“Ser sozinho é como andar de bicicleta: você aprende aos poucos, encontra o equilíbrio, e vai deixando os outros pra trás.”
Em face de tamanhas maldades relatadas por idosos em toda a espécie de mídia na atualidade, é preciso que se bote a boca no trombone!
Monte Claros (MG), 11-01-2015
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A “Serra da Piedade” e o noviço estrambelhado


(O exato momento em que eu recebia o hábito de noviço dominicano em BH.)

Vez por outra minha memória passeia lá pelas bandas da Serra da Piedade.
Isto porque por volta do primeiro semestre de 1961, eu e meus companheiros de noviciado fomos descansar lá pelas bandas da tal “Serra”, para nos aliviarmos um pouco das preções da vida conventual impostas pela Santa Regra Dominicana sobre o nosso cotidiano de frades principiantes.

Se bem me lembro, nos levantamos ainda de madrugada. Os sinos do convento badalaram efusivamente por volta das quatro da madrugada. Dirigimo-nos à capela; rezamos as matinas; tomamos um café substancial e entramos na velha “jardineira” que nos conduziria à tão decantada “Serra”.

A discrição monástica amainava a euforia que permeava  nossas almas ansiosas por um pouquinho de liberdade. Enfim, já  estávamos vivendo enclausurados há mais de quatro meses naquela santa casa de São Domingos em Belo Horizonte.

O “choffer”, como chamávamos o motorista à época, pos-se atentar  ligar a velha “Jardineira” que se negava, veementemente, a pegar.
Contudo, depois de algumas tentativas o motor deu sinal de vida. Pegou e pusemo-nos a estrada. A tal ‘Jardineira” andava tão devagar que imaginava comigo mesmo:
- Não seria melhor irmos a pé?
Mas mantive um semblante de paz como é de bom tom a um aprendiz de frade.

Duas ou três horas depois de uma viagem atribulada pelo desconforto da poeira e a lentidão de locomoção do nosso veiculo,nos deparamos na beira da estrada com três senhoras de semblante angelical que nos pediram carona. Eram três irmãzinhas de Jesus da congregação fundada por Charles de Fouceuld. Ficamos muito encantados com a essência da vocação dela:
- Viver a vida oculta de Nazaré.
Na realidade a época eu desconhecia essas ricas peculiaridades de cada uma das inúmeras maneiras de viver a vida religiosa na Igreja Católica.
Mas de repente, a “velha Jardineira” parou e as três freirinhas desceram e logo saltaram na boleia de um caminhão que transitava pela estrada e partiram, deixando-nos encantados.
Fiquei sabendo depois que antes de elas abraçarem a vida religiosa, uma era medica, a outra era engenheira e a terceira era advogada. Enfim, eram três mulheres de muito valor que se dispuseram a largar tudo para seguir Jesus com radicalidade.

Bom!
Alguns minutos depois estava-mos aos pés da “Serra”. Descemos da “Jardineira” e pusemo-nos a escala-la lentamente.
Pouco a pouco o cansaço e a fome se apoderaram de nós. Quanto mais subíamos, mais distante nos parecia o pico da “Serra”.
Eu mesmo já me perdia em murmúrios secretos. Pois um frade, mesmo que principiante, não deve reclamar de nada, nem tampouco deixar transparecer tristezas. Mas, embora contrariadíssimo e aborrecidíssimo, lá ia eu subindo, subindo rumo ao cume da “Serra” onde ansiava usufruir um pouco de maior intimidade com Deus.

Já se fazia crepúsculo quando chegamos ao topo da amada “Serra” e à frente da bela capela de Na Sra da Piedade. Então, nos desfizemos das cargas de mantimentos que trazíamos nos ombros. Gente, o vento assoviava estridente e gélido, era frio pra dá com pau! Imediatamente após a chegada, nos introduzimos no átrio da capelinha e nos posemos a cantar às Vésperas e as Completas, que são orações que concluem o dia de oração de qualquer frade. Logo em seguida nos lançamos, cada um em seu catre, sem ao menos nos lembrar que estávamos famintos.  

Meu Deus! Nunca um alvorecer fora, em nossas vidas, tão esperado. Porque nem o frio congelante, nem  a fome de lobo faminto, nem tampouco os abusados pernilongos nos deram um só instante para pregarmos as pestanas durante a noite inteirinha.
Portanto, mal soara a primeira badalada do sino da capelinha, saltamos dos triliches e sem lavar a cara ou fazermos a higiene bucal, no dirigimos, de imediato, à capelinha para cantarmos  as “Matinas”, dando  assim inicio aos primeiros louvores diários de um frade . logo em seguida fomos degustar a primeira alimentação do dia que nós mesmos tratamos de preparar: Um pãozinho amanhecido, umas bolachinhas daquela bem simplesinhas, um chazinho feito com água de bica e um cafezinho bem ralinho.

Após essas primeiras façanhas do dia, nos pusemos a meditar ao ar livre e a contempla as belezas da natureza que Deus criou.
Passada a fase do imenso encantamento, nos dividimos em equipes para dá encaminhamento as tarefas do dia. Coube a mim, em religião chamado frei. Boaventura, ao padre mestre ( frei Emammuel Maria Retumba), a frei Leandro, frei Guido e a frei João Evangelista  limparmos a velha capelinha muito empoeirada.
À medida em que a limpeza se procedia, descobri atrás do altar-mor um velho e lindo crucifixo jogado às traças. Chamei o padre mestre e  mostrei-lhe o belo crucifixo, dizendo lhe:
- Podíamos leva-lo para a nossa capelinha do noviciado. Então, ele disse-me:
-Para tanto você terá que pedir o crucifixo ao frei Rosário. Você tem coragem?
 Disse-lhe sorrindo:
-Tenho! Por que não.
Então, zombando de mim, disse-me:
-Então, não perca tempo, vá logo!
E lá fui eu todo serelepe rumo a ermida de frei Rosário.
Não me lembrara em momento algum de sua fama de bravo.
Ingenuamente, pus em sua bater à sua porta sob os olhares curiosos de meus companheiros de noviciado. De repente a porta se abriu e eu me encontrava face a face com uma figura carrancuda de dois metros de altura.
-Bom dia! Disse-lhe eu sorrindo.
-Bom dia! Respondeu-me aos berros.
- O senhor poderia dar-me este belo crucifixo para colocarmos na capelinha do noviciado.
Esbravejando respondeu-me:
- Você não tem o que fazer, coloque o crucifixo imediatamente onde você o achou.
Virou-se e bateu a porta em minha cara. Pra dizer a verdade em momento algum fiquei zangado com ele. Mas muito me aborreceu a gozação explicita dos outros frades. Coloquei o crucifixo onde achei e não toquei mais no assunto.

Por fim, completada nossa rápida estadia prevista na “Serra da Piedade”, arrumamos nossas tralhas e retornamos ao convento de origem para darmos prosseguimento à  nossa aprendizagem religiosa nos moldes da regra de São Domingos.
Passados uns três dias de nosso retorno ao convento, Pe. Mestre bateu à porta de minha cela, abriu-a e disse mim:
- Frei Boaventura, o Frei Rosário está lhe esperando lá na porta do noviciado.
Embora arredio, ou melhor, tremendo nas bases, respirei fundo e dirigi-me à porta do noviciado. Ao abri-la, muito encabulado, o cumprimentei com um discreto aceno de cabeça e um sorriso amarelo, e ele pois se a falar em alto e bom som:
-frei Boaventura, aquele crucifixo que você gostou não posso dá-lo porque não me pertence. Mas, trouxe este que acabei de ganhar porque penso que ficará muito bem na Capelinha de vocês. Boa tarde!
Gente, o presente era de veras belíssimo! Foi uma grande festa no noviciado.
Ah! Boquiabertos com esse inesperado arroubo de generosidade do nosso nobre ermitão turão, eu e meus companheiros de noviciado, alem de perdidos em espantos de alegria, apreendemos, profundamente, que também por trás de um homem grosseiro pode haver um ser generosíssimo.

Então, até a próxima crônicasinha da época desse ex-noviço estrambelhado.

Paz e bem!

Montes Claros (MG), 09-04-2015
RELMendes


Capitulo 7

Frei Jordão, o alegre confessor do Noviço esparolado


Frei Jordão de Oliveira OP

Meu Deus! Quando minha memória se dispões a passear lá no passado, Ela sempre encontra algo de interessante a rememorar. Portanto, vamos acompanha-la em suas andanças pra ver o que ela ira cascavilhar lá no passado já tão distante.
Cá comigo tenho por certo que, novamente, nos conduzirá ao Convento dos dominicanos, situado à rua, do Ouro, bairro da Serra em Belo Horizonte, lá pelos idos de 1961.
Desta vez para falarmos de um cara incrível, e muito santo, frei Jordão.
E por que não?
Ora!  Se nem o tempo conseguiu apagar em mim suas santas lembranças, não serei eu quem as esconderei vez que não seria nem pertinente ao relato, nem tampouco justo ao protagonista.

Quando conheci frei Jordão, ele já era um frade presbítero e vice mestre de noviços. Era um jovem homem de sorriso afável e permanente.
Penso que frei Jordão, em sua juventude, como eu deveria ser “um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones”.
Vez que em sua maturidade, quando o conheci, apesar de acometido por uma terrível doença – uma tuberculose calopante adquirida em uma de suas extravagâncias esportivas, subir a “Serra da Piedade” correndo sem agasalho- sempre o encontrávamos perdido em alegria e brincadeiras interessantes.
Esse cara era verdadeiramente um santo.
Dias após a minha tomada de hábito, eu o escolhi para meu confessor  vez que se ao Mestre de Noviços, considerado a Regra Viva do convento, cabia conduzir-nos ao conhecimento e a vivência do carismas da Ordem, aos demais frades presbíteros, segundo a livre escolha de cada noviço, competia  ouvir-nos em confissão e dar-nos orientação espiritual .

Então, contar-lhes-ei um interessante fato que confirma a santidade desse bom homem com quem tive a oportunidade de conviver no convento por alguns poucos meses:
Certa feita, numa tarde qualquer daquele saudoso tempo, quando fui me confessar, ao bater à porta de sua cela deparei-me com uma enternecedora cena de profunda paciência consigo mesmo e com suas limitações.
Lá estava ele prostrado ao solo de braços abertos e rindo se si mesmo, porque fora tentar rezar de joelhos e caira de bruços ao solo. Ao entrar, disse-me que já se encontrava naquela posição a mais de duas horas a espera de alguém que viesse ajuda-lo a se levanta.
Pediu-me que lhe desse o braço para que pudesse se apoiar e por si só se levantar. Então compreendi que, realmente, ele se encontrava muito debilitado. Mas, a maior surpresa, foi quando me pediu pra ajuda-lo a trocar o hábito que tinha se sujado porque era muito branco.
Meu Deus!... O santo homem era só pele, osso e sondas excretoras do excessivo fluido pulmonar que escorria de  seu magérrimo corpo franzino. E no entanto, nunca ninguém o vira  lamuria-se  de nada. Pronto! Daquele momento em diante, eu já não tinha problema algum! Uma vez recomposto disse-me carinhosamente:
- Frei Boaventura, estou a sua disposição! O que o senhor deseja?
Profundamente encabulado,  disse-lhe:
-Vim apenas reclamar de quase nada. Mas, ao observa-lo com tanta paciência para consigo mesmo, já obtive a paz que eu vim procurar. Agradeci-lhe ternamente, o acolhimento e parti curado, de alma e de mente.     

Conta-se que esse tal frei sorriso, com o qual eu tive o privilégio de conviver ainda que por pouco tempo, morreu brincando com seus confrades que cantavam a Salve Rainha na hora de sua morte.

- “Gente, se desafinarem na minha missa de “réquiem” como estão desafinado agora, eu salto do caixão e saio correndo por ai afora”. 

Contaram-me, também, que após dizer isto, sorriu, respirou fundo e partiu.
Valeu, homem sorriso!
Até breve!   

Montes Claros, (MG), 12-04-2015
RELMendes

   
            

      

   


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 Editor Virtual: Daniel Mendes




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