Mas, despejou-me, logo em Uberaba, a
troco de quê?
Ah! Porque a exuberante cidade de Uberaba
era muito famosa, quer ao seu entorno, quer, quiçá, no mundo inteiro. Por de
todos serem muito conhecidas, suas tão decantadas primícias: - a pujança de sua
pecuária de corte e reprodução; - a beleza de suas meninas de pernas grossas,
de tanto caminharem por ladeiras íngremes acima; - a efervescência pujante de
sua vida cultural: - escolas de todos os tipos e pra todos os gostos, e o
desabrochar definitivo dos cursos superiores de filosofia, odontologia e
medicina etc etc; - a boniteza de suas solidas construções, quer
conventuais, quer residenciais e outras; - a conhecida rivalidade acirrada, ora
velada, ora explicita, entre o Bispo, Dom. Alexandre do Amaral, intelectual de
primeira linha, e os intelectuais espíritas, tão cultos e sábios quanto ele, e generosíssimos
de quebra; e, ah, por tantas outras coisas mais etc etc
Portanto, por esses e por tantos
outros porquês, é que, naquele meu agora, ali estava eu em Berabão (junção de
Uberaba com êta, trem bão) sem lenço nem documento, sem um centavo nos bolsos
e, aparentemente sozinho, a questionar-me mais uma vez: - E agora, Romildão?!
Respondia-me então a mim mesmo: -
Vamos pagar pra ver!
No que tange a hospedagem, logo que
cheguei, eu me aboletei em uma pensãozinha qualquer, acostumada a acolher
estudantes forasteiros. Bem pertinho da praça da catedral. Quanto à matricula,
eu já a fizera antecipadamente, no colégio do celebre, Mario Palmerio, para o
período noturno. E durante três longos anos de minha vida, eu fui aprendendo a
conhecer Uberaba e a permitir que ela me acolhesse. Mas, logo de inicio, eu
pensara ter feito uma péssima escolha de horário pra estudar. Porque me deitava
a altas horas, e levantava-me quase na hora do almoço. À tarde, ou voltava a
dormir, ou ia bater pernas pelos quatro cantos da cidade. Contudo, eu estava
totalmente enganado! Graças a Deus, não tive o discernimento suficiente para
pedir transferência para o turno matutino. O que teria sido mais coerente para
quem pretendia ser o que somente eu e Deus sabíamos o que era.
Todavia, enfim, Deus tinha outros
planos para mim. Tanto é que, em compensação, por estudar à noite, tive a
imensa felicidade de conviver com colegas e colegas que trabalhavam, desde a
mais tenra idade, sem problema algum. No caso, o meu bom amigo Paulo, uma
pessoa de coração lindo. Todos os sábados e domingos, eu e Paulo íamos à casa
de sua namorada para estudarmos para alguma prova que aconteceria na segunda
feira vindoura. Eles riam muito de mim, que me perdia em imitar todos os
professores com grande maestria.
Bem como, também, estudar à noite,
proporcionou-me inesquecíveis oportunidades preciosas, tais como: - fazer o “Tiro
de Guerra”, sem perder o ano escolar; - visitar amigos à tarde, dentre os quais,
a maioria era de espíritas generosíssimos, como Da Celina, a Cléo, minha
doce mestrinha de latim, a primeira deficiente visual a se formar em letras no
Brasil.
Ainda neste contexto das minhas
amizades espíritas, acredite se quiser, eu aludo aqui, também, o suavissímo,
Chico Xavier, a quem, não só por uma vez eu visitara, mas, visitara até
com certa frequência, para trocarmos ideias sobre a vida espiritual, tão
importante para nós dois; - ainda,
também, por inúmeras vezes à tarde, eu peregrinava por conventos e mosteiros,
onde amizades, fi-las, abundantemente: - ir João OP, frei Boaventura OP, frei
Chambert OP, Dom Sebastião OSB, o monge dentista, a doce Madre Superiora
das Concepicionistas, minha querida amiga Madre Coleta, e tantas outras e
outros enfim.
Em Uberaba, conclui a duras penas e
muito esforço o curso cientifico em 1960.
Porquanto tudo isto, e um punhado
generoso de tantas outras coisas, eu penso que fora uma boa ter estudado à noite.
Dessa querida Uberaba, que para mim
transpirava espiritualidade, eu partira, no final de 1960, rumo à Belo
Horizonte.
RELMendes 01//05/2017
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