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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Emmanuel,o menestrel da ESPERANÇA


(Cronicazinha a quem me ensinou a ser cristão)


(Frei Emmanuel Maria Retumba)

-Bato-lhes, delicadamente, ás portas de seus corações...
A fim de falar-lhes de um certo menestrel da “Esperança”
A quem tive a felicidade de conhecê-lo lá pelos idos da
década de sessenta (60) em um Convento (dominicano)
Situado no alto da “Serra do Ouro” em Belo Horizonte...
A bela capital de todas as “MINAS”!

-Seu sobrenome era Retumba e, Emmanuel (“Deus” conosco)
Era seu abençoado nome. Na realidade, este, fora-lhe dado...
Por seus pais em seu santo batismo.
Verdadeiramente não sei lhes dizer se -“Emmanuel” – este nome,
Sobremaneira bendito, fora-lhe dado por pura coincidência ou, quiçá,
Por um propósito da “Divina Providência do Deus Altíssimo”...
Na envelhênçia,contudo, Emmanuel era por todos chamado, apenas... De Frére Manu...tão somente vez que ele se fizera monge trapista e, na TRAPA - cistercienses reformados - independentemente de ser ou não sacerdote, lá uns chamam aos outros apenas de irmão.

-Mas, verdadeiramente é fato que o “Senhor” sempre se abeirava
Donde quer que ele, ”Emmanuel”, se encontrasse. Ah, se “Se” abeirava!
Por ter sido eu testemunha disto, digo-lhes: - Não duvidem disto não!
Pois não raro, tive a grata felicidade...ou melhor, fui agraciado, á beça,  Em vê- lo...por incontáveis vezes, no seu cotidiano de extrema simplicidade, a transbordar-se de celestial contentamento, mesmo nas coisas mais corriqueiras que se possa imaginar...tais como:
- Ao convocar-nos - a nós noviços – bem cedinho para rezar as “matinas”, ás 5,30h, com uma imensa disposição e uma alegria verdadeiramente transcendental, de causar inveja a qualquer um de nós, pobres aprendizes de futuros frades – pregadores - que, futuramente, deveriam ser verdadeiros pastores das gentes cristãs como seria de se esperar certamente;
- Ou ao conduzir-nos ás sóbrias refeições diárias. Á mesa ele sempre  aproveitava o santo momento para nos induzir á pratica da caridade para com os demais confrades, tal qual o fazia com muita generosidade e santa maestria. Enfim, ele sempre fora completamente coerente com o que dizia e vivia no seu dia a dia.

-Sabe por quê? Porque Emmanuel estava constantemente mergulhado
ou abismado no “Amor de Deus”. Mas sempre atento, ao mesmo tempo, a seus afazeres de Mestre de Noviços. Nada se lhe passava despercebido quando se tratava de nós ensinar a sermos cristãos já.
Vez que frades, segundo ele, teríamos a vida inteira para aprendermos a sê-lo. Ser santo pra valer era sua meta. Era um servo de Deus impar. Tanto em sua constante intimidade com Deus quão na sua atenção em suprir as necessidades do seu próximo precisado de sua colaboração.
Gente, foi muito bom ter conhecido esse santo homem de Deus!

-Entretanto, num entardeceu de um dia qualquer daquele então, deu-me a louca de repente e, simplesmente, resolvi sair do Convento.
Naquele momento não havia chance alguma de eu retroceder deste intento inesperado. Eu estava obstinado em sair.
A saudade das coisas do mundo – dançar no Cacique de Ramos;
- namorar pelas esquinas nas noites em breu; - vadiar pelas madrugadas, sem rumo nem prumo; - tomar uns Daiquiris ou uns Cubalibres bem geladinhos e tantas outras patifarias próprias de um jovem – já de algum tempo vinham-me atormentando a alma saudosa de viver a zueira da liberdade mundana. Coisa que,além de mim e, evidentemente de Deus, ninguém o sabia.

-Então, decidido a ir-me embora, após o terço da noite, chamei frei Emmanuel num canto do claustro e disse-lhe: - Vou sair do Convento!
Não pedi sua opinião. Fui muito incisivo: - Não quero mais ficar aqui!
Ele olhou-me com a serenidade que lhe era peculiar e disse-me:
- Amanhã, logo ao levantar-se, você irá comprar sua passagem.
Não obstante a proibição da “Regra”, ainda pude dormir, naquela noite, na cela que ocupara durante mais de seis (6) meses,quiçá, os mais
proveitosos e felizes de toda minha vida.

-Amanhecido o dia da partida fui á rodoviária e comprei a passagem para as 22,00hs. Rumo ao Rio de Janeiro. Casa da mãe é claro!
Depois dei um rolé pela bela Belo Horizonte,a linda capital das Minas.
Voltei ao Convento – ainda vestido de frade – por volta de 11,00h.
Para almoçar e esperar a hora da partida. Eu era só ansiedade!
A tarde escorria lenta pra mim. Mas a vida dos frades continuava
A todo vapor como sempre. Ou como era de eu esperar certamente.
Não era minha saída que iria parar o deslanchar da vida conventual.

-Enfim, 21,00h,chegara a hora de minha partida. Frei Emmanuel
acompanhou-me silenciosamente até a porta do santo Convento...
Abençoou-me, ainda paternalmente; abraçou-me, fraternamente, e disse-me, aos sussurros:
-Filho, nem sempre são os melhores que ficam!
-Filho não perca a Esperança nunca viu?!
(Ro 5,5)
Esta sua última admoestação, eu a cultivo ainda hoje em minha vida.
Desde então, a “Esperança” pra mim, é a parceira de todo instante!
Nos vimos apenas duas vezes, depois de minha saída do Convento.
Entretanto, com certa frequência, trocamos missivas, um com o outro...
Isto o fizemos até sua partida do Mosteiro “Notre De La Porte Ouverte”
Para a eternidade pela qual se esmerou ardorosamente em buscá-la todos os dias de sua santa vida, com muita Fé, Esperança e Caridade.

RELMendes – 20/02/2012

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