(Frei Emmanuel Maria Retumba)
-Bato-lhes,
delicadamente, ás portas de seus corações...
A
fim de falar-lhes de um certo menestrel da “Esperança”
A
quem tive a felicidade de conhecê-lo lá pelos idos da
década
de sessenta (60) em um Convento (dominicano)
Situado
no alto da “Serra do Ouro” em Belo Horizonte...
A
bela capital de todas as “MINAS”!
-Seu
sobrenome era Retumba e, Emmanuel (“Deus” conosco)
Era
seu abençoado nome. Na realidade, este, fora-lhe dado...
Por
seus pais em seu santo batismo.
Verdadeiramente
não sei lhes dizer se -“Emmanuel” – este nome,
Sobremaneira
bendito, fora-lhe dado por pura coincidência ou, quiçá,
Por
um propósito da “Divina Providência do Deus Altíssimo”...
Na
envelhênçia,contudo, Emmanuel era por todos chamado, apenas... De Frére
Manu...tão somente vez que ele se fizera monge trapista e, na TRAPA -
cistercienses reformados - independentemente de ser ou não sacerdote, lá uns
chamam aos outros apenas de irmão.
-Mas,
verdadeiramente é fato que o “Senhor” sempre se abeirava
Donde
quer que ele, ”Emmanuel”, se encontrasse. Ah, se “Se” abeirava!
Por
ter sido eu testemunha disto, digo-lhes: - Não duvidem disto não!
Pois
não raro, tive a grata felicidade...ou melhor, fui agraciado, á beça, Em vê- lo...por incontáveis vezes, no seu
cotidiano de extrema simplicidade, a transbordar-se de celestial contentamento,
mesmo nas coisas mais corriqueiras que se possa imaginar...tais como:
-
Ao convocar-nos - a nós noviços – bem cedinho para rezar as “matinas”, ás
5,30h, com uma imensa disposição e uma alegria verdadeiramente transcendental,
de causar inveja a qualquer um de nós, pobres aprendizes de futuros frades –
pregadores - que, futuramente, deveriam ser verdadeiros pastores das gentes
cristãs como seria de se esperar certamente;
-
Ou ao conduzir-nos ás sóbrias refeições diárias. Á mesa ele sempre aproveitava o santo momento para nos induzir
á pratica da caridade para com os demais confrades, tal qual o fazia com muita
generosidade e santa maestria. Enfim, ele sempre fora completamente coerente
com o que dizia e vivia no seu dia a dia.
-Sabe
por quê? Porque Emmanuel estava constantemente mergulhado
ou
abismado no “Amor de Deus”. Mas sempre atento, ao mesmo tempo, a seus afazeres
de Mestre de Noviços. Nada se lhe passava despercebido quando se tratava de nós
ensinar a sermos cristãos já.
Vez
que frades, segundo ele, teríamos a vida inteira para aprendermos a sê-lo. Ser
santo pra valer era sua meta. Era um servo de Deus impar. Tanto em sua
constante intimidade com Deus quão na sua atenção em suprir as necessidades do
seu próximo precisado de sua colaboração.
Gente,
foi muito bom ter conhecido esse santo homem de Deus!
-Entretanto,
num entardeceu de um dia qualquer daquele então, deu-me a louca de repente e,
simplesmente, resolvi sair do Convento.
Naquele
momento não havia chance alguma de eu retroceder deste intento inesperado. Eu
estava obstinado em sair.
A
saudade das coisas do mundo – dançar no Cacique de Ramos;
-
namorar pelas esquinas nas noites em breu; - vadiar pelas madrugadas, sem rumo
nem prumo; - tomar uns Daiquiris ou uns Cubalibres bem geladinhos e tantas
outras patifarias próprias de um jovem – já de algum tempo vinham-me
atormentando a alma saudosa de viver a zueira da liberdade mundana. Coisa
que,além de mim e, evidentemente de Deus, ninguém o sabia.
-Então,
decidido a ir-me embora, após o terço da noite, chamei frei Emmanuel num canto
do claustro e disse-lhe: - Vou sair do Convento!
Não
pedi sua opinião. Fui muito incisivo: - Não quero mais ficar aqui!
Ele
olhou-me com a serenidade que lhe era peculiar e disse-me:
-
Amanhã, logo ao levantar-se, você irá comprar sua passagem.
Não
obstante a proibição da “Regra”, ainda pude dormir, naquela noite, na cela que
ocupara durante mais de seis (6) meses,quiçá, os mais
proveitosos
e felizes de toda minha vida.
-Amanhecido
o dia da partida fui á rodoviária e comprei a passagem para as 22,00hs. Rumo ao
Rio de Janeiro. Casa da mãe é claro!
Depois
dei um rolé pela bela Belo Horizonte,a linda capital das Minas.
Voltei
ao Convento – ainda vestido de frade – por volta de 11,00h.
Para
almoçar e esperar a hora da partida. Eu era só ansiedade!
A
tarde escorria lenta pra mim. Mas a vida dos frades continuava
A
todo vapor como sempre. Ou como era de eu esperar certamente.
Não
era minha saída que iria parar o deslanchar da vida conventual.
-Enfim,
21,00h,chegara a hora de minha partida. Frei Emmanuel
acompanhou-me
silenciosamente até a porta do santo Convento...
Abençoou-me,
ainda paternalmente; abraçou-me, fraternamente, e disse-me, aos sussurros:
-Filho,
nem sempre são os melhores que ficam!
-Filho
não perca a Esperança nunca viu?!
(Ro
5,5)
Esta
sua última admoestação, eu a cultivo ainda hoje em minha vida.
Desde
então, a “Esperança” pra mim, é a parceira de todo instante!
Nos
vimos apenas duas vezes, depois de minha saída do Convento.
Entretanto,
com certa frequência, trocamos missivas, um com o outro...
Isto
o fizemos até sua partida do Mosteiro “Notre De La Porte Ouverte”
Para
a eternidade pela qual se esmerou ardorosamente em buscá-la todos os dias de
sua santa vida, com muita Fé, Esperança e Caridade.
RELMendes
– 20/02/2012