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ANDANÇAS...
LA PELAS
TRILHAS DO VAMOS VER NO QUE DÁ!
( ALGUNS
RELATOS AUTOBIOGRÁFICOS DE UM ANCIÃO PEREGRINO)
DEDICATORIA
Dedico este
meu segundo livrinho digital a todos aqueles que gostam de ler meus escritos singelos.
O autor
Romildo
Ernesto de Leitão Mendes
ÍNDICE:
Prólogo-----------------------------------------------------------------------------------------
6
Capitulo 1
Pistas
autobiográficas ---------------------------------------------------------------------
7-8
Capitulo 2
Da terra dos
verdes mares à terra das macaubeiras---------------------------- 9
Capitulo 3
Em Conquista a
vida escorria lentamente-------------------------------------------10-11
Capitulo 4
Enfim, pouco a
pouco, iam se abrindo, para mim as porteiras da liberdade
-------------------------------------------------------------------------------------------------------12-13
Capitulo 5
Entre mim e a
bela Sacramento (MG) d´outrora, teceram-se duradouros laços de bem querer---------------------------------------------------------------------------------
14-15
Capitulo 6
EM 1958, O
SOPRO QUE ME IMPUSIONAVA NAS MINHAS ANDANÇAS DESPEJOU-ME, LITERALMENTE, NA RICA UBERABA (MG) DE TANTOS EVENTOS
SOCIAIS, ECONOMICOS E CULTURAIS ---------------------------16-17-18
PRÓLOGO
Do esconderijo
da memória, eu resolvi falar de algumas andanças ou peregrinagens que fiz lá
pelas bandas da infância longínqua. Não há, nestes relatos nada de inverosímel.
Tudo aqui relatado, eu mesmo cascavilhei generosamente, lá onde se escondem as
alegrias e os descontentamentos que a vida ofertou-me no percurso da infância e
da juventude vividas.
Espero que me
desculpem a ousadia. Na verdade estes relatos fi-lós para ablucionar-me a alma
e o coração, daqueles espectros que espantam a criança que, em mim, ainda planje.
Sejam muito
bem vindo!
CAPITULO 1
Pistas
autobiográficas
Nasci, em
1941, lá pelas bandas das terras de Iracema, a virgem dos lábios de mel,
atualmente conhecida pelo cognome de Fortaleza (CE). Como todo mundo eu brotei
no canteiro da vida, como fruto de um acasalamento entre um homem e uma bela
mulher. Claro, na época não havia nenê de proveta!
Minha mãe, os
retratos confirmam era uma bela jovenzinha, chamada Maria Vanda Gomes Mendes,
filha de João Gomes e de Elvira Gomes. Meu pai, era um jovem garboso, medico
higienista, chamado Romildo Borges Mendes, filho de Sebastião Mendes e de
Julieta Borges Mendes. Simplesmente, se conheceram e, imediatamente, se
dispuseram a partilhar a vida, os sonhos, as tralhas, os bregueços e o que mais
viesse. Mochilas às costas, diploma no sovaco, mulher ao braço e
filho na
pança, lá se foram eles por ai afora e assim começaram nossas muitas andanças...
CAPITULO 2
Da terra dos
verdes mares à terra das macaubeiras
Um dia
qualquer de um mês qualquer de 1950, como que num passe de mágica, eu e meu
irmão Charles fomos transferidos, sem nenhuma preparação psicológica, de
Fortaleza (CE), onde residiam os avós paternos, para Conquista (MG).
Da logística
do nosso transporte para Conquista (MG), se encarregaram, o Osmar Vieira e a
tia Nemaura, que estavam acompanhados da pequena Nádia, filha deles. Não
pegamos um Ita no norte e fomos para o Rio morar. Ah quem dera que se o
tivéssemos ido! Mas pegamos uma velha aeronave muito utilizada na Segunda
Guerra Mundial, chamada de “Douglas” e fomos pra Conquista (MG) morar.
Ah! É bom que
se diga a priori que, eu, pessoalmente, a época, embora ainda criança,
considerei a tal bendita mudança uma violência imensurável, vez que, aos mais
interessados, nada foi esclarecido, antecipadamente. Simplesmente, abduziram nos
de nosso nicho provisório, a terra dos verdes mares, para nos lançarem em um asteroide
perdido em minha mente pueril, totalmente, desconhecido a nós: A terra das
macaubeiras.
Enfim, quer
quiséssemos, quer não quiséssemos, e, na verdade, não o queríamos, lá estávamos
nós no Triangulo Mineiro, ou mais precisamente, em, Conquista (MG): Terra dos
Bizinotos ( gente de coração lindo); terra dos Borges ( ricos pecuaristas
detentores do poder político na região); terra dos Canassas ( gente boa à
beça); terra dos Furiates; terra dos Páduas; terra dos Caldeiras; etc etc...
Conquista (MG)
a época era uma cidadezinha qualquer, como tantas outras pelo país afora. Mas
não podemos nos esquecer que a grande novelista
Janet Clair nasceu lá, em 1925.
CAPITULO 03
Em Conquista a
vida escorria lentamente
Com uma pracinha,
uma escolinha, uma igrejinha, um hotelzinho, um armarinho de bugigangas, um
deposito de material de construção, um postinho de saúde... ara! Carecendo de tantas
outras coisasinhas, a vida na cidadesinha, só podia correr lenta do alvorecer
ao crepúsculo. Era sempre o mais do mesmo, todo dia, toda hora!
Duas vezes por
dia, alguns gatos pingados ocupavam a plataforma da estação ferroviária a
espera do trem a vapor que, ora vinha de São Paulo destino a Uberaba, ora, de
Uberaba a São Paulo. Para quem morava em Conquista (MG) estes horários do trem
eram motivo de muita estripulia.
Bem cedinho,
as portas do único hotelzinho se abriam a espera de que talvez quem sabe, pudesse
hospedar algum vendedor forasteiro. Porque muitos outros hospedes já se
preparavam para partir na jardineira (ônibus) rumo a Sacramento ou a Uberaba. À
noite, a paisagem escura da cidadesinha mal iluminada intensificava sobre
maneira, o deplorável tédio. Destarte, logo após ouvirmos, pelo radio na casa
dos caldeiras, a célebre novela “O DIREITO DE NASCER”, só nos restava nos
recolher às nossas residências.
À noite, a
iluminação era tão precária que se podia perceber: - Uma lampadazinha fraquinha
aqui e outra lá acolá, disputando com o brilho das estrelas quem quebraria o
breu da noite. Ah! Mas, depois das 22h só as portas entre abertas dos
prostibulos esperavam os clientes. E, também, o boteco de Gilberto lá na bela
pracinha, mantinha-se a todo vapor para atender os bebuns e disponibilizar a
mesa de sinuca para os viciados em bilhar. E eu, em meu lugar de dormir na casa
de minha madrasta ( quem inventou madrasta, não tinha o que fazer!), me perdia
em devaneios e em saudades de minha mãe, da qual eu só sabia que morava no Rio
de Janeiro. Mas, eu não tinha nem o endereço dela, nem noticias suas e nem
tampouco o numero do seu telefone.
Isto era um
tormento para mim. Contudo era a força que me impulsionava a viver a cada dia
na esperança de evadir-me dessa cidadesinha para encontra-la onde quer que
estivesse.
Por fim,
apesar dos pesares, Conquista teceu em mim gratas lembranças:
- Suas casas
arejadas; seus amplos quintais, sombreados de mangueiras frondosas, todos
plantadinhos de hortaliças verdinhas, e de flores perfumosas; lembranças de
Dona Virgilina, nossa primeira lavadeira; de seu Leozino e sua bela ximbica a
manivela; de seu Amilca Barros e de sua esposa Dona Ermelida Bizinoto, um casal
literalmente santo, que foi para mim referencia a cada dia de minha vida etc
etc...
CAPITULO 04
Enfim, pouco a
pouco, iam se abrindo, para mim, as porteiras da liberdade.
Como o tempo
não para, em 1953 fui estudar interno no Colégio São Jose, dos padres Claretianos, em Batatais (SP).
Então o leque de minha visão geográfica se abriu, sobremaneira. Agora, eu sabia
que existiam muitas outras cidades além de Fortaleza (CE) e de Conquista (MG) e
que eu estava, relativamente, muito mais próximo do Rio de Janeiro. Cá comigo
mesmo, eu já me sentia o cara!
- Já pensou o
que era saber que Franca, Brodosque, e tantas outras cidade existiam?!
Em um dia
qualquer de um mês qualquer de 1954, fui avisado, logo ao levantar-me no
dormitório do colégio, que meu pai me esperava na portaria e que eu deveria já
ir ao seu encontro levando comigo minha roupa pra viajarmos. Putz grila! Perguntei-me:
- Será que ele
vai tirar-me desse Oasis de paz?
Ao nos
defrontarmos na portaria, ele disse-me:
-Vamos,
imediatamente ao Rio, porque recebi uma ordem judicial de lá, exigindo que eu
os apresentasse ao juiz em 24h, senão decretaram a minha prisão. E lá fomos nós
de trem até São Paulo, e, no dia seguinte, tomamos um ônibus da Cometa na Av.
Duque de Caxias, rumo à rua Garibaldi na Tijuca (RJ). Durante todo o percurso
mantive-me silencioso, para que ele não percebesse a minha imensa alegria e
ficasse muito aborrecido. Enfim, eu acabara de tomar posse da forma de me
comunicar com todos os meus parentes maternos. A partir de então, eu não os
perderia mais de vista.
CAPITULO 05
Entre mim e a
bela Sacramento (MG) d´outrora, teceram-se duradouros laços de bem querer.
(Lá conclui o
ginasial em 1957)
Chegara,
enfim, 1955, trazendo consigo novos e grandes desafios que eu teria que
enfrentar com muita galhardia, tais como:
- Saudades de
meu irmão que retornara a Fortaleza (CE), para viver lá, deixando-me aqui sozinho
( ah! Só Deus e eu sabemos, quanto falta me fez!);
- Mudança de e
cidade e de escola, que, em consequência, me fez perder os cuidados extremosos
dos bons e generosos padres Claretianos. Perder, também, a eficiência pedagógica e
outras regalias da instituição educacional deles etc etc...
Enfim,”
começar tudo de novo e contar só comigo mesmo”. Naquele exato momento de minhas
andanças, apesar de eu ter apenas 14 anos de idade, eu teria que ser senhor do
meu próprio destino. E eu dei conta! Mas, não obstante tamanha parresia, com o
fiofó na mãos, eu me perdia, por varias vezes, em questionamentos:
- “ o que será
que será...”?
- Como vou
fazer...?
Mas, alguma
coisa me dizia que Deus sabia, e isto, bastava-me. Se assim é, disse-me a mim
mesmo:
-Novidade
alguma, a de me amofinar!
Porque o
conhecido, eu já conheço, e o desconhecido, por decerto, eu quereria conhecer...
Ora! Em contrapartida, o leque da
liberdade se abria para mim. Quem sabe tudo aquilo não seria bom para mim? É...
Quem sabe?
E,
relativamente, foi muito bom!
A bela Sacramento-
, de bem antigamente, ficava, a uma hora de Jardineira, da matuta Conquista,
d´outrora. Sacramento, como Conquista,
também, por ser uma cidadesinha qualquer no dizer de Carlos Drummond de Andrade,
adormecia cedo e caminhava a passos lentos de tartarugas, em se tratando de
desenvolvimento pujante... ara!
Mas, a bela Sacramento-
era uma cidadesinha limpa, toda calçadinha de paralelepípedo bem talhados, ela
sempre se amanhecia de auroras- a iluminar suas largas avenidas e suas ruasinhas;
ela sempre se amanhecia de bocejos juvenis a caminho da escola local, da qual
todos os habitantes se orgulhavam, porque, em fim, era um ginásio, o que fazia
a diferença entre ela e as demais cidadesinhas a seu entorno; ela sempre se
amanhecia de burburinhos de gente laboriosa, hospitaleira, acolhedora e de
coração lindo:
- Seu Labieno,
Da Sara, Alicinha, Celia, Ercilha, Voza, Luis Fernando, José Alberto, Ana
Flavia etc etc...
A bela
Sacramento d´outrora, talvez até fosse uma cidadesinha qualquer, como tantas
outras do então.
Mas, o que
importa é que a bela sacramento de outrora escreveu em mim lembranças de coisas
e de pessoas que não pretendo esquecer “nem bem de vagarinho”: A bela igreja Matriz
de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento e sua glamorosa pracinha, onde os
enamorados se perdiam em olhares e suspiros apaixonados; - a pensão, onde vivi por
três anos, espremida entre uma esquina comercial e a casa dos Valadares; -Dona
Araci Pavanelli, a nossa inesquecível diretora; -Dona Corina, minha professora
de português, a doce Mãe Corina do Lar espírita Eurípedes Barsanulfo; - Dona Dalila, a suave
professorinha de desenho e pintura; a competentíssima dona Hilca, que em mim
despertou o desejo de ser professor de história etc etc...
Por fim, só sei que sou eternamente grato a
Sacramento, por tudo que lá vivi, por tudo que lá aprendei, por todas as
amizades que lá construi.
CAPITULO 06
EM 1958, O
SOPRO QUE ME IMPUSIONAVA AS MINHAS ANDANÇAS DESPEJOU-ME, LITERALMENTE, NA RICA UBERABA (MG) DE TANTOS EVENTOS
SOCIAIS, ECONOMICOS E CULTURAIS.
(Lá, conclui,
a duras penas e muito esforço, o curso cientifico em 1960)
Mas,
despejou-me, logo em Uberaba, a troco de quê?
Ah! Porque a
exuberante cidade de Uberaba era muito famosa, quer a seu entorno, quer quiçá,
no mundo inteiro, porquanto serem, de todos muito conhecidas, suas tão
decantadas primícias: - a pujança de sua pecuária de corte e reprodução; - a
beleza de suas meninas de grossas pernas, de tanto caminharem por ladeiras
íngremes acima; - a efervescência pujante de sua vida cultural: - escolas de
todos os tipos, e o desabrochar dos cursos superiores de filosofia, odontologia
e medicina etc etc...; - a boniteza de
suas solidas construções, quer conventuais, quer residenciais; a rivalidade
acirrada, ora velada, ora explicita, entre o Bispo Dom. Alexandre do Amaral,
intelectual de primeira linha, e os intelectuais espíritas, tão sábios e
generosos; e por tantas outras coisas mais etc etc...
Portanto, por
esses e por tantos outros porquês, e que, naquele meu agora, ali estava eu em
Berabão (junção de Uberaba com etá trem bão), sem lenço nem documento, sem um
centavo nos bolsos, e, aparentemente sozinho, a questionar-me mais uma vez: - e
agora Romildão?!
Respondia-me,
a mim mesmo: - Vamos pagar pra ver!
No que tange a
hospedagem, logo que cheguei, eu me aboletei, em uma pensãosinha qualquer,
acostumada a acolher estudantes forasteiros. Bem pertinho da praça da catedral.
Quanto à matricula, eu já a fizera, antecipadamente, no colégio do celebre,
Mario Palmerio, para o período noturno. E durante três longos anos de minha
vida, eu fui aprendendo a conhecer Uberaba e a permitir que ela me acolhesse. Mas,
logo de inicio, eu pensara ter feito uma péssima escolha de horário pra estudar.
Porque deitava-me a altas horas e levantava-me quase na hora do almoço. À
tarde, ou voltava a dormir, ou ia bater pernas pelos quatro cantos da cidade.
Contudo, eu estava totalmente enganado! Graças a Deus, não tive o discernimento
suficiente para pedir transferência para o turno matutino. O que teria sido
mais coerente para quem pretendia ser, o que só eu e Deus sabíamos o que era.
Toda via, enfim, Deus tinha outros planos para mim. Tanto é que, em compensação,
por estudar a noite, tive a imensa felicidade de conviver com colegas e
colegas, que trabalhavam desde a mais tenra idade. No caso, o meu bom amigo
Paulo, uma pessoa de coração lindo. Todos os sábados e domingos eu e Paulo
íamos à casa de sua namorada, para estudarmos para alguma prova que aconteceria
na segunda feira seguinte. Eles riam muito de mim, que me perdia em imitar
todos os professores com grande maestria.
Bem como também,
estudar a noite, proporcionou-me inesquecíveis oportunidades, tais como: - fazer
o Tiro de Guerra sem perder o ano escolar; - visitar amigos à tarde. ( Dentre
os quais a maioria era espíritas generosíssimos, como Da Celina, a Cléo, minha doce mestrinha de latim,
a primeira deficiente visual a se formar em letras no Brasil. Ainda neste
contexto das minhas amizades espíritas, acredite se quiser, eu aludo aqui,
também, o suavissímo, Chico Xavier, a
quem não só por uma vez, eu visitara, até
com certa frequência, para trocarmos ideias sobre a vida espiritual, tão
importante para nós dois);
- ainda também,
por inúmeras vezes à tarde, eu peregrinava por conventos e mosteiros, onde
amizades, fi-las, abundantemente: - ir João OP, frei Boaventura OP, frei Chambert
OP, Dom Sebastião OSB, o monge dentista, a doce Madre Superiora das Consepicionistas, minha querida
amiga Madre Coleta, e tantas outras e outros. Porquanto tudo isto, e um punhado
generoso de tantas outras coisas, eu penso que fora uma boa, ter estudado a
noite.
Dessa querida
Uberaba, que para mim transpirava espiritualidade, eu partira, no final de
1960, rumo a Belo Horizonte.
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